O que eu (não) sei sobre o amor

Matheus
5 min readOct 18, 2020

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Eu quero amar. Amar muito. Amar de verdade. Amar dum tanto que não cabe nos meus braços. Amar na intensidade dos sete mares. Amar com toda a força dos meus músculos. Amar na amplitude do infinito do universo. Quero amar agora. Para ontem. Neste instante. Quero me afogar, deixar levar, me transbordar. Todo outro sentimento é secundário. Só o amor. Quero que cada célula do meu corpo sinta o que quero sentir. Amor. Amor. Amor. Amor. Mais nada. Amor.

Quando estou com a mente acelerada pela ansiedade, um pensamento recorrente é exatamente o que tentei retratar acima pelas palavras. É bem por aí. Louco, né? É puro achismo da minha parte, mas minha impressão é que a ansiedade, em todos os seus espectros e formas, normalmente traz sensações mais severas e negativas. Desespero. Falta de controle. Sentir tudo e nada ao mesmo tempo. Dentre outras coisas. Mas quando ela me ataca, eu costumo sentir isso. Vontade de amar.

Mas não confunda isso como algo necessariamente positivo. Essa urgência em amar está diretamente relacionada ao cerne das minhas inseguranças: o próprio amor em si. A necessidade, o medo, a vontade e o pavor de amar. Tudo junto e misturado.

Ao invés de te apresentar um retrospecto profundo da minha vida, eu vou apresentar os detalhes mais importantes. Senão esse texto seria de meia hora de leitura e eu tenho certeza que você tem coisa melhor pra ler no Medium do que descobrir as desventuras de um jovem adulto que lida com a insegurança diariamente. Pois bem. No início da adolescência, eu me vi com um monte de dúvidas que eu não sabia lidar direito e fui internalizando por achar que seria a melhor forma de lidar. Será se eu sou legal? Será se eu valho a pena? Será se as garotas da minha sala me vêem com interesse como eu vejo algumas delas? Será se sou um bom amigo? Perguntas demais para alguém nos seus doze, treze anos.

Eu via os meus amigos beijarem por aí. Namorarem escondido nos corredores. Sentindo um pouco do que era se apaixonar, gostar de alguém e ser gostado. Eu não fazia ideia do que era aquilo e me enganava achando que era bobagem. O importante mesmo era tirar notas boas nas matérias e jogar videogame. Mas acabava que no fundo, eu sentia um pouco de inveja. Eu queria ser desejado. Queria que meus sentimentos fossem correspondidos. Por que todo mundo podia viver aquilo mas não eu? O que tinha de errado comigo? Eu só fui internalizando aquilo tudo e bom…vocês devem saber aonde isso vai chegar. Cresci meio complexado das ideias. A insegurança reinava em minha cabecinha. E por conta disso tudo eu passei a minha vida achando que eu não era digno de amar e tampouco merecedor de pessoas boas na minha vida.

Eu tentava trazer calma pra mim mesmo quando esse desejo ardente de ter uma paixão correspondida e saber o que era o amor tomava de conta. Calma, Matheus. Você vai se apaixonar. Você vai saber o que é isso. Tudo no seu tempo. Tentava seguir em frente. Estudos. Amigos. Viajar. Aprender. Ocupava minha mente com coisas tão importantes quanto, como passar num vestibular ou decidir o que diabos eu queria fazer da minha vida. Mal eu sabia que isso tudo de mal resolvido dentro de mim era como uma bomba relógio sem timer. Ia explodir qualquer hora e ia dar ruim.

E deu mesmo. Entrei em relacionamentos em que caí tão de cabeça, tão desesperado em sentir alguma coisa, que não tinha como não dar outra coisa a não ser errado. Foram felizes e proveitosos sim e não me arrependo de ter vivido o que vivi com pessoas maravilhosas. Mas foram desmedidos. Sem limites, sem liberdade. Um monte de rolinhos em que o furor, o tesão e a ardência eram tão grandes que se queimavam rapidamente como papel em brasa. E eu olhava pra esses fracassos tão incrédulo, tão sem esperanças, tão sem rumo. Eu era apaixonado. Eu estava amando. Então por que estava errado?

Bom, vamos voltar para o agora. Alguns bons anos mais maduro, com novas perspectivas e algumas várias sessões de terapia nas costas, eu ainda não tenho todas as respostas que procuro. Mas tenho algumas pistas.

Amor não é só o romântico. Eu tinha isso muito firme na minha cabeça até pouco tempo atrás. É muito mais que isso. É o amor que você sente pelo seu bichinho de estimação, pelo seu pai, pela sua mãe, pelos seus amigos, pelas coisas que você faz, por você mesmo e por aquilo que te faz bem. A gente sabe que essas coisas importam, mas nem sempre se dá conta da magnitude delas em nossas vidas. Nos cegamos achando que só o amor romântico é o que importa, mas estamos errados. Tudo aquilo que te preenche e te faz sentir pertencente a algum lugar ou a alguma coisa é amor.

E, se tratando de amor romântico, é amor que te liberta. É amor que te permite ir para os lugares, estar com outras pessoas, outras vivências, que te leva longe mas que faz com que você acabe sentindo uma vontade enorme de voltar para casa. É o amor conversado, discutido, entendido e definido por limites, o que pode e o que não pode. É o amor que potencializa todas as sensações possíveis. É o amor que vai fazer você sentir o melhores e os piores dias da sua vida. É o amor que expande toda a amplitude da sua alma.

Amar é urgente. É para o agora. Mas amar é exercer paciência. Entender o tempo e as coisas que não estão sob nosso controle. É uma dicotomia permanente, um conflito interno e intenso. É o que vai embaralhar a sua mente, te torcer por completo, mas é o que vai te fazer levantar da cama e seguir adiante quando tudo parecer perdido. É só o que nos resta e pelo que vale a pena viver. O amor que levamos é o amor que deixamos e criamos aqui.

É até bonito eu trazer tantas conclusões sobre o que é o amor nos parágrafos anteriores. E sabe o que é mais maluco nisso tudo? Eu ainda não vivi um amor assim. Ainda assim, eu sei tudo o que ele significa, ou melhor, o que deveria significar para mim e para quem eu escolher amar nessa vida. Eu sei tanto quanto o que é se apaixonar e amar quanto você que está lendo isso. Como qualquer outra pessoa que amou desde que a matéria existe. Ninguém soube, e suponho que ninguém nunca saberá. O amor vai ser misterioso, inalcançável, impossível e estará se ressignificando a todo o momento para qualquer um que ousar sentí-lo. Ainda assim, ele está a um palmo de distância. Só esperando a melhor oportunidade para se manifestar diante de mim e de você.

Escrever sobre o amor me traz mais dúvidas do que respostas. E acho que tá tudo bem. Quem sabe daqui a umas setenta e seis epifanias eu consiga entendê-lo. Eu vou errar mais do que acertar em nome do amor. Vou reaprender. Vou reconstruir. Quem sabe um dia eu consiga dizer que eu amei de verdade, por completo e por inteiro. As inseguranças e traumas foram só fantasmas de um eu que me pertence, mas não é a totalidade do que sou. O que importa é quem eu sou agora. Eu sou maior e melhor do que elas. Eu preciso amar porque eu mereço amar. Mereço me amar, ser amado e ser envolto pelas melhores pessoas e sentimentos. Eu sou digno, eu sou suficiente, eu basto. Eu tenho tanta coisa boa para oferecer para as pessoas. Eu sou amor, no fim das contas.

Quero amar. E vou amar. Não quero amar pra ontem. Nem quero amar amanhã. Amar hoje já tá bom. É o que me pertence.

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Matheus

Desde 1995 falando coisas que só fazem sentido na minha cabeça. Quando tem palavras demais dentro dela, reorganizo elas na minha prosa. Às vezes dá certo.